No dia 25 de agosto celebra-se o Dia do Feirante, um dos ofícios mais antigos do mundo. A data tem suas raízes na celebração da primeira feira livre brasileira, ocorrida em 1914, no Largo General Osório, situado no bairro Santa Efigênia, em São Paulo. Posteriormente, a formalização desse comércio e mercados livres ganhou força com a promulgação do ato nº 625, datado de 28 de maio de 1934, pelo então prefeito da capital paulista, Washington Luís.

Atualmente, existem na metrópole 942 feiras livres cadastradas e 4.628 feirantes, de acordo com dados da Administração Municipal. Todas regidas hoje pela Lei nº 492, de 1984, válida em todo o território nacional. A trajetória desses espaços traz à tona a relevância que eles possuem como pilares fundamentais nas dinâmicas urbanas. Bem como na subsistência de muitas famílias brasileiras.

Nesse contexto, o Dia do Feirante se torna uma ocasião perfeita para enaltecer esses trabalhadores. Assim como oportuniza conhecer narrativas de famílias que usam desse ofício para sustentar suas gerações. Dentre elas, aquelas que atuam no Mercado Municipal Kinjo Yamato, localizado no centro histórico expandido da capital paulista.

Sua inauguração remonta a 1936, tendo sido edificado alguns anos antes com o propósito de auxiliar nos preparativos para a concepção do icônico Mercadão de São Paulo. Na época, acolheu imigrantes japoneses que se dedicavam à agricultura. Mas desde 2021, a administração do hortifruti e de seu “primo famoso”, passou às mãos da Mercado SP SPE S.A., assinalando uma mudança em seus gerenciamentos.

Um legado de 50 anos

Ao adentrar o Kinjo Yamato, deparamo-nos inicialmente com a bancada de Eico Kaneshiro, que oferece uma seleção de hortaliças, verduras e legumes, renovados diariamente. Sob a orientação de Silvia Kaneshiro, filha dos fundadores, a empresa tem sido uma presença constante no local há cinco décadas, desde seu estabelecimento em 1973.

Essa empresa é de família e leva o nome da minha mãe. Meu pai foi um imigrante japonês e veio para o Brasil após a Segunda Guerra. Atualmente, já estamos na terceira geração de proprietários, que são os meus filhos, que também vivem da banca”, relata Silvia.

Ela compartilha que o início desse trajeto foi, em muitos aspectos, uma escolha com poucas alternativas. Sua família administrava uma chácara para o cultivo e colheita de verduras e legumes, o que implicava em uma rotina extremamente desgastante. Depois, eles ainda tinham que trazer seus produtos ao Kinjo para vendê-los no estabelecimento. Uma tarefa que Silva descreve como árdua, porém repleta de alegrias e conquistas.

Atualmente, a dinâmica da família mudou, não mais detendo a chácara e, em vez disso, adquirindo seus produtos diretamente dos pequenos agricultores rurais. Mesmo assim, o dia tem início para Silvia e seus filhos às 2h da manhã, uma jornada que se estende até as 15h.

Seus principais clientes são aqueles que valorizam a qualidade acima de tudo, os proprietários e chefs de restaurantes na capital paulista. Assim, para ela, os anos de dedicação ao Kinjo Yamato constituem um legado que se traduz na entrega desses produtos de alto padrão aos seus clientes, algo que teve origem no sonho de seus pais há meio século. Diante dessa perspectiva, é inegável que essa trajetória é marcada por um compromisso duradouro e por uma busca incessante por excelência.

Típico pastel da feira

O apreço pelo pastel é quase uma unanimidade nas feiras da capital paulista. Entre as bancas do Kinjo Yamato, está a da pasteleira de 30 anos, Rafaela Gonçalves Nisichara, cuja trajetória como feirante se estende por duas décadas, enquanto sua participação no Kinjo abarca um período de dois anos. No local, ela figura como a única representante do quitute até o momento.

Chegamos no Kinjo Yamato a partir da oportunidade que a Mercado SP ofereceu. Trabalhar aqui é mágico. A gente adora o Kinjo porque é mais do que uma feira, é um espaço de cultura, de história. Existe muita união dentro do nosso hortifruti e conseguimos atender com qualidade todos os nossos clientes”, explica a empreendedora.

Ademais, Rafaela faz questão de ressaltar que seu estabelecimento espelha as características essenciais das bancas presentes em feiras tradicionais. O atendimento pessoal, o preparo imediato dos pastéis e a elaboração do caldo de cana com zelo retratam seu negócio. Também que é apaixonada por seu ofício e pela mistura humana e cultura que o mercado municipal onde atua transmite como essência.

O Mercado Kinjo Yamato

Em sua inauguração, o espaço era denominado Mercado Municipal da Cantareira. Posteriormente, adotou o nome Kinjo Yamato em uma homenagem a um dos pioneiros da imigração japonesa no Brasil. Tal ajuste ocorreu durante as comemorações dos 80 anos da chegada dos japoneses ao país, em 1988.

Situado no centro histórico expandido de São Paulo, o Kinjo Yamato emerge como um dos primeiros mercados públicos da cidade. Originalmente projetado como um espaço dedicado a hortifruti, o mercado inicialmente operava a céu aberto. Mas nos idos de 1930, recebeu uma contribuição singular: uma cobertura metálica proveniente da Escócia, originalmente destinada a uma estação de trem do Anhangabaú.

Essa estrutura, tempos depois, ganhou status de patrimônio histórico, conferindo uma aura de importância cultural e arquitetônica ao local. Em meio a essa evolução, o Kinjo Yamato não apenas abriga uma rica história de comércio, mas também personifica a intersecção entre as influências da imigração japonesa e o cenário mercadológico da capital paulista. Sendo, portanto, um ótimo lugar para visitar e celebrar o Dia do Feirante.

Serviço

Mercado Municipal Kinjo Yamato
Endereço: Rua da Cantareira, 377, Centro – São Paulo
Funcionamento: Segunda a sábado, das 3h às 15h
Telefone: (11) 3228-9332


Créditos:
Mercado SP SPE S.A