Em 13 de setembro, celebra-se o Dia da Cachaça, a terceira bebida destilada mais consumida em todo o mundo. No Brasil, é a líder indiscutível, tendo uma produção anual de aproximadamente 1,3 bilhão de litros. Isso de acordo com dados fornecidos pelo Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça (PBDAC). Dessa quantidade, cerca de 75% são provenientes de instalações industriais, enquanto o restante 25% é fruto da destilação artesanal.

Além disto, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o consumo interno nacional absorve quase toda a produção de cachaça. Assim, restando apenas uma modesta parcela de 1% a 2% destinada à exportação, o que equivale a aproximadamente 2,5 milhões de litros. Neste cenário, os principais destinos incluem países como Alemanha, Paraguai, Itália, Uruguai e Portugal.

A cachaça é uma bebida nobre, apreciada por diversas classes sociais e é encontrada em doses, seja em bares nas periferias ou em restaurantes e cachaçarias. Na Água Doce Sabores do Brasil, por exemplo, ela é a protagonista de uma extensa lista com mais de 60 marcas. Sendo assim, em homenagem a data, o especialista na bebida e fundador da rede, Delfino Golfeto, compartilha algumas curiosidades interessantes. Confira!

1 – Cachaça, pinga ou aguardente?

Essa confusão é bastante frequente e merece esclarecimento. A cachaça é um destilado 100% brasileiro, exclusivamente derivado da cana-de-açúcar, com teor alcoólico variando de 38% a 48% em volume. Por outro lado, a aguardente é um termo genérico para qualquer bebida resultante da fermentação e destilação de vegetais doces, com teor alcoólico que oscila entre 38% e 54%. Para ilustrar, usa-se aguardente de cereais na produção de diferentes tipos de uísque, enquanto a aguardente de agave é a base para variedades de tequila.

2 – Bebida histórica e cultural

Conforme informações fornecidas pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), essa bebida desempenha um papel significativo em várias expressões culturais, sejam elas folclóricas, profanas ou religiosas. Ela está presente em eventos como bailes, celebrações folclóricas, jogos, cerimônias de casamento, nascimentos, batizados, velórios, festas populares, novenas, ladainhas e cerimônias religiosas.

Além disso, ao longo da história, a cachaça teve um papel como meio de comunicação, já que frequentemente se transmitiam acontecimentos políticos e sociais por meio dos rótulos das garrafas desta bebida, devido à sua presença generalizada em diversos ambientes.

3 – Variedade de rótulos

No cenário atual, o mercado brasileiro abriga mais de 4 mil marcas de cachaça. Destaca-se que no início de 2023, lançou-se no Brasil a cachaça mais cara do mundo, com um preço de venda astronômico de US$ 180 mil, o que equivale a quase R$ 1 milhão.

4 – Surgimento da Caipirinha

De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), a caipirinha, feita exclusivamente com cachaça, limão, açúcar e gelo, teve sua origem no interior do estado de São Paulo como um remédio para a gripe, durante o surto da Gripe Espanhola em 1918. No entanto, ela só ganhou notoriedade durante a Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922. Atualmente, é um dos drinques mais populares no Brasil e em todo o mundo quando se trata de cachaça.

5 – Cachaça é brasileira, mas a cana-de-açúcar não!

A planta, que faz parte da família das gramíneas, teve sua origem na ilha de Nova Guiné, localizada na Oceania. Ao Brasil, os portugueses apresentaram a cana-de-açúcar em 1520.

6 – Importância da madeira na produção

Ao contrário de outros destilados ao redor do mundo, a cachaça tem a vantagem de poder envelhecer em mais de 30 tipos diferentes de madeira. Por isso, a material desempenha um papel crucial na sua produção, conferindo-lhe uma ampla variedade de cores, aromas e sabores.

Delfino Golfeto destaca que a busca pela qualidade começa já na plantação da cana-de-açúcar. Isso implica na escolha cuidadosa do terreno, no preparo adequado do solo e na seleção criteriosa da variedade da cana. A fase de plantio e colheita também requerem um timing preciso. Além disso, processos como moagem, extração da sacarose, fermentação e destilação são igualmente cruciais.

Outro fator determinante é o tipo de madeira utilizado no armazenamento da cachaça, pois isso provoca alterações químicas e sensoriais na bebida. O processo de envelhecimento é adaptado de acordo com o tipo de madeira escolhido, com carvalho, amburana e bálsamo sendo algumas das opções mais comuns. Essa escolha tem um impacto direto no resultado final, uma vez que cada tipo de madeira confere sabores únicos e aromas frutados à cachaça. Para garantir a qualidade, a bebida deve ser armazenada por pelo menos dois anos em madeira de qualidade, mas quando envelhecida por mais de oito anos, ela adquire um status nobre e prestigioso.

7 – Como beber cachaça?

Ao avaliar uma cachaça, é importante começar por observar sua transparência, pureza e oleosidade enquanto a movimenta em um copo ou taça translúcida. Isso permite que você visualize as “lágrimas” da bebida escorrendo lentamente, indicando que a cachaça possui corpo, característica típica das variedades de alta qualidade envelhecidas em tonéis de madeira.

O próximo passo é explorar o aroma e o sabor. Deixe a cachaça na boca por cerca de vinte segundos, permitindo que os sabores se revelem nas regiões palatáveis e interagindo com a bebida em áreas sensíveis da boca. Vale destacar que a cachaça geralmente possui um teor alcoólico mais elevado, proporcionando uma sensação de calor ao ser consumida. No entanto, essa sensação não deve ser irritante. Para Delfino, a cachaça boa aquece, mas não arranha.

É no segundo gole que a apreciação da cachaça se aprimora. O especialista conta que normalmente degusta 25 ml ao longo de 20 ou 25 minutos, tempo suficiente para avaliar adequadamente sua qualidade. Inclusive, ele afirma que um bom método para identificar as nuances é “mastigar” o aroma e o líquido. Permitindo, assim, que você aprenda a distinguir as características de cachaças envelhecidas em bálsamo, carvalho e amburana, por exemplo.

8 – Harmonização

A cachaça fica excelente acompanhando pratos tradicionais com um toque tropeiro, como linguiças, torresmos, carnes suínas e tutu de feijão. Existem duas abordagens fundamentais para harmonizar cachaça com comida: a harmonização por semelhança e por contraposição.

Para alcançar uma harmonização eficaz, é crucial levar em conta vários fatores, incluindo o teor alcoólico, a acidez, os sabores, o aroma e o tipo de envelhecimento da cachaça. No caso das cachaças neutras, que têm um aspecto cristalino e não passam pelo processo de envelhecimento, elas se harmonizam bem com pratos como tilápia ao molho de camarão, bolinhos de bacalhau, camarão crocante, saladas, queijo provolone e tilápia crocante.

Por outro lado, quando se trata de cachaças envelhecidas em tonéis de madeira, é importante considerar o tipo de madeira utilizada para escolher a combinação perfeita. As cachaças envelhecidas em bálsamo, por exemplo, são ideais para pratos como filé-mignon com gorgonzola, picadinho de carne e picanha na chapa. A variedade Amburana pode ser uma escolha excelente para acompanhamento de bolinhos de carne de sol, bolinhos de mandioca recheados, chapa mista com picanha, linguiça e filé de frango, e até mesmo com sobremesas. O carvalho, por sua vez, pode ser harmonizado com pratos como escondidinho, costelinha suína, torresmo e carne de sol.

9 – Museu da Cachaça

Uma outra curiosidade envolve o fato de que Delfino fundou o Museu da Cachaça em maio de 2004, localizado em Tupã, no interior de São Paulo, onde a sede da Água Doce Sabores do Brasil está situada. Este local abriga uma impressionante coleção de mais de 3 mil rótulos de cachaça, além de proporcionar uma narrativa detalhada sobre a história da bebida e o processo de sua fabricação.

Vale destacar que a Água Doce já estava na vanguarda da valorização da cachaça desde os anos 1990, investindo tanto na ampla variedade de opções da bebida como também na sua utilização em caipirinhas e outros coquetéis. Dado o cenário de pandemia, que torna mais desafiador visitar determinados lugares, a marca desenvolveu um tour virtual para permitir que os entusiastas dessa bebida possam explorar o Museu e aprender mais sobre ele.

 

Créditos: Freepic.diller/Freepik